Santo Daime
- Hugo Francisco Ramos Nogueira
- 25 de fev. de 2019
- 3 min de leitura
Raimundo Irineu Serra nasceu em 1892 no Maranhão e faleceu em 6 de junho de 1971, no Acre. Irineu foi conduzido por uma visão da Virgem Mãe, que se apresentava sob a forma de uma linda mulher com o nome de Clara, numa grande luz na forma de lua dentro da floresta. Ela se declarou como a Virgem da Conceição. Rainha da Floresta e conduziu Irineu por toda a Amazônia até os países da Bolívia e do Peru, onde Irineu relacionou-se com os índios e caboclos e conheceu uma bebida chamada Ayahuasca. Na década de 30 fundou a religião do Santo Daime na cidade de Rio Branco, capital do Acre.
Nos anos 70, Sebastião da Mota de Melo criou o Centro de Emissão da Fluente Luz Universal Raimundo Irineu Serra para divulgar a religião criada por Irineu. Em 1984 ele criou a Vila do Céu de Mapiá no meio da floresta. O Céu de Mapiá é considerado um lugar sagrado, segundo os seguidores, nada se compara a tomar o Daime no Mapiá, de onde, segundo eles, provêm os ensinamentos superiores. O acesso é aéreo ou fluvial, dista em linha reta de Manaus, 990 km e 35 km de Boca do Acre. A Vila do Céu de Mápia fica dentro da floresta nacional Mapia-Inauini, reserva ambiental de 311.000 hectares. Eventualmente foram criados grupos do Daime em Brasília (Céu do Planalto), Rio de Janeiro (Céu do Mar) e em outros lugares do Brasil e do exterior, como Holanda, Japão, etc.
O Daime não é a única religião no Brasil que usa a Ayahuasca, existe também a Barquinha e a União do Vegetal, que chama a Ayahuasca de hoasca ou vegetal e foi criada por José Gabriel Costa em 1961.
A ingestão cerimonial da Ayahuasca provoca um estado de euforia, que segundo os seguidores, é prenúncio ou símbolo da participação do homem na bem-aventurança dos deuses. Aya significa espírito, ancestral ou morto e Huasca significa vinho. Portanto Ayahuasca é o vinho das almas ou vinho dos mortos. Segundo os seguidores, ele possibilita subir pela via Láctea, a estrada branca ou estrada dos mortos, para se juntar aos ancestrais.
O feitio, colheita da folha, catança do cipó, corte, raspagem, bateção, lenha, fornalha, cozimento com água sob ritual místico, escorrimento, esfriamento e engarrafamento ocorre durante um período de rigorosa dieta de abstinência sexual e lua nova.
O cipó é considerado sagrado e é conhecido como Jagube, Mariri, Yachay, Yausa, Yage e tem como ingredientes ativos os alcalóides harmine e harmaline, alucinógenos proibidos nos Estados Unidos.
A folha é conhecida por Mescla, Chacrona, Rainha e apresenta o DMT, que se assemelha à serotonina. A junção dos dois potencializa o poder alucinatório e dificulta a digestão de certos alimentos, como carnes, queijos, sal, condimentos, doces, gordura de porco, etc. Por isso é recomendado fazer jejum antes da cerimônia que dura várias horas. Em uma experiência de laboratório foi injetado DMT em 15 voluntários obtendo-se os seguintes sintomas: alucinações visuais (100%), alucinações com os olhos fechados (100%), movimentação das coisas ao redor (93%), dificuldade de falar (93%), dificuldade de descrever os sentimentos (93%), relaxamento (93%), dificuldade de concentração (93%), cores parecem mais brilhantes (87%), excitação (87%), pensamento mais rápido (87%), boca seca (87%), tensão (80%), pessoas parecem diferentes (75%), despersonalização (60%), náusea (60%), pessoas com uma aura laranja-vermelha (53%), alucinação de “coisas reais” (27%), paranóia (20%) e alucinações auditivas (7%).
Segundo os seguidores, o cipó dá a força e a folha a luz ou capacidade para visões. Eles acreditam que o cipó e a folha são plantas de poder, que podem despertar determinados poderes latentes nos homens, não trazem mal nem bem. Depende do coração de cada um.
O uso ritualístico do chá é garantido no Brasil por dois pareceres do Conselho Federal de Entorpecentes, órgão vinculado ao Ministério da Justiça. Houve uma interdição em 1985 que foi suspensa em 1986.
O ritual começa com todas as pessoas fazendo fila ao redor da mesa central, cada pessoa recebe um copo com o chá e volta para o seu assento. Depois que todos estão sentados é que bebem juntos. A música desempenha um papel essencial no ritual. Há um canto em uníssono do hinário, dos chamados “icaros” ou músicas de poder, através das quais a doutrina é transmitida: “Oh! Minha Virgem Mãe/ Vós que me fizeste assim/ Minha flor, minha esperança/ Minha rosa do jardim”, “Eu já cheguei/ Eu já cheguei, Eu já cheguei/ Eu sou o sol/ Eu sou o sol/ Eu sou o Rei/ Nesta Floresta/ Vamos todos se firmar/ Chama a Floresta/ Que é ela quem tem para te dar”.
Referências
Soares, L. O Rigor da Indisciplina. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1994.
Jornal do Céu, Notícias do Céu de Mapiá, Boletim Informativo da Associação de Moradores da Vila do Céu de Mapiá, ano I, n. dois.
http://www.maps.org/

Comments