Eliseu Visconti
- Hugo Francisco Ramos Nogueira
- 25 de fev. de 2019
- 3 min de leitura
Eliseu Visconti foi um artista que refletiu sobre a realidade artística do país e chegou à conclusão de que não tínhamos um passado artístico e a construção de um futuro demandaria um grande esforço. Nas suas palavras: “É um engano falar em arte no Brasil. Nós não temos arte. Nunca tivemos... a primeira de todas as artes plásticas, a architectura (sic), não existe no Brasil”.
Visconti foi o primeiro artista da recém proclamada República a ganhar um prêmio de viagem e quando voltou de Paris, trouxe pinturas e idéias em harmonia com a vanguarda da época. Foi por isso convidado pelo prefeito Pereira Passos a participar da decoração do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, os dois formavam uma unidade que representava o que havia de mais novo à época. Visconti pintou o Foyer, o pano de boca e o teto.
Na França, Visconti havia sido aluno de Grasset, mestre do Art-Nouveau e duas pinturas suas “Gioventú” e “Dança das Oréades” foram premiadas com a medalha de prata na exposição universal em Paris, em 1900, que tinha como tema a eletricidade. “Gioventú” representa para o conjunto da obra de Visconti o mesmo que “Flaming June” representa para o conjunto da obra de Leighton, ou seja, é a sua obra mais importante.
Engana-se quem acredita que os dois pintores estavam simplesmente em busca da beleza pela beleza. Embora a beleza pura fosse o paradigma da época, os dois, assíduos leitores dos clássicos latinos como Dante, estavam na realidade sob a égide de Ruskin e mais do que pregar a autonomia da beleza, eles apresentavam esta como alternativa para um mundo que começava a ser dominado pela técnica, a máquina, a indústria, enfim, onde o humano desvanece.
Mais importante do que ter um estilo definido era a utilização racional de elementos de diferentes estilos, a pesquisa histórica e a experimentação plástica. Visconti intitulava-se um “presentista”, sua pintura “A recompensa de São Sebastião” ganhou a medalha de ouro da exposição de Saint Louis, EUA, ela é um bom exemplo de como o pintou filiou-se ao movimento pré-rafaelita inglês, inspirado em Ruskin. A beleza é imitação da natureza ou inspirada nela. Como não havia preocupação com a criação de um estilo, os elementos são escolhidos livremente e através da pesquisa histórica, por isso Visconti e Leighton foram até antes de Rafael, buscar inspiração em Botticelli, mas classificar Visconti e Leighton como pré-rafaelitas obscurece o alcance das suas obras. É possível que se Leighton não tivesse morrido um ano após pintar “Flaming June” que a sua pesquisa o levasse a outros caminhos, como aconteceu com Visconti. Encontramos no quadro “A recompensa de São Sebastião” até mesmo um toque medieval no dourado do cabelo e dos detalhes da roupa do anjo, das auréolas e do colar e tiara das figuras do lado direito.
Visconti também foi um pioneiro do design moderno no Brasil, criou cerâmicas, brasões, tecidos, papel de carta, vitrais, luminárias, o ex-libris da Biblioteca Nacional, um cartaz de Santos Dumont, selos, logotipos, etc. Visconti trouxe o método de Grasset para o Rio de Janeiro, lecionando no curso de extensão Universitária da Escola Politécnica da Universidade do Brasil.
Mário Pedrosa destacou a importância e o caráter moderno da pintura de Visconti, seus valores puros, prazer visual e composição através da diluição das cores, os quais, segundo Pedrosa, garantiram a autonomia da esfera visual para a arte brasileira. Segundo Moraes, Visconti, mais do que importar estilos individuais, como fez o grupo da Semana de 22, foi capaz de captar o espírito global de sua época.
Referências
Arte Brasileira. São Paulo: Abril Cultural, 1976.
Costa, A. A inquietação das abelhas. Rio de Janeiro: Pimenta de Mello & Cia, 1927.
Leal, J. Catálogo da exposição retrospectiva de Visconti. São Paulo: II Bienal do MAM, 1954.
Moraes, F. Curso de arte brasileira. Fitas de áudio do MNBA – RJ.

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